VEGETAÇÃO - Caatinga aberta, um pouco mais fechada na beira dos riachos e rios, árvores como amargoso, arueira, pau darco, pau ferro, gameleira, juazeiro, umbuzeiro, cajazeira, ....apresentando uma paisagem baixa com plantas (arbustos) como licurizeiro, pindoba (ariri), gravatá .... e um grande número de lajedos e plantas cactáceas, como, o mandacaru e cactos em geral, alguns conhecidos aqui especificamente sob o nome de "cabeça de frade", "rabo de raposa", "xique-xique", etc
Paisagem típica de toda a região sisaleira FOTO: exposicaofotograficaapaeb.blogspot.com |
Ouricuri (aqui "licuri"), pindoba (ariri), gravatá, são algumas plantas típicas |
mandacaru, lagedos fazem parte da paisagem capelense |
mandacaru, Ipê Amarelo (aqui "Pau Darco" |
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Fotos cedidas por Joci de Capela., Antenor dos Santos, Geasi Coelho e Edenício Macedo)
Sr Joci Lima (JOCI DE CAPELA), um desbravador, apaixonado pela história e pela cultura de Capela do Alto Alegre
Antes do arame farpado, as cercas eram de madeira da própria região FOTO: esposicaofotogaficaapaeb.blogspot.com |
umbuzeiro, árvore sagrada do Nordeste inteiro FOTO: temmaistudo.com |
PECUÁRIA - A região de Capela do Alto Alegre desde os velhos tempos, sempre teve fazendas com terras férteis, boa pecuária de gado leiteiro e de corte, e ovinos, desfrutando de boas pastagens, irrigadas por riachos e afluentes do Rio Jacuipe
Rio Jacuípe, percorre vários municípios, como São José de Jacuípe, Capela do Alto Alegre, Gavião, Povoado de Barreiros, Riachão do Jacuípe, Serra Preta, etc... até chegar ao Rio Paraguaçu, próximo à Feira de Santana . O Rio Jacuípe, juntamente com seus afluentes (riachos e rios menores) forma a chamada Bacia do Jacuípe e compreende 14 municípios da região: Baixa Grande, Ipirá, Mairi, Quixabeira, Várzea do Poço, Várzea da Roça, São José de Jacuípe, Capela do Alto Alegre, Gavião, Nova Fátima, Riachão do Jacuípe, Pé de Serra, Pintadas, e Serra Preta..
AGRICULTURA - milho, feijão , mandioca, aipim, batata, , abóbora , melancia. , mamona, .....
FRUTAS TIPICAS; umbu cajá, pitanga, jabuticaba... São frutas nativas, não cultivadas pela mão de obra humana.
FOTO Antenor ds Santos |
umbu |
cajá |
FOTO mdemulhermoca.blogspot.com |
pitanga (ai ! que saudade das fazendas Pedra Bonita, Oncinha, Pedra da Onça e Sete Casacas) FOTO: Gesiel Silva |
jabuticaba (nasce no próprio caule de jabiticabeira) |
"Jaboticaba teu olhar noturno, beijo travoso de umbú cajá"
AVICULTURA - galinha, peru, pavão e saqué Até os anos 70, Capela foi um grande fornecedor de ovos e frangos, numa área que se estendia até mesmo por Feira de Santana
FOTO by:Antenor dos Santos |
Hoje, até mesmo patos e gansos são incluidos em sua avicultura |
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INDUSTRIA carpintaria, marcenaria, serraria, olaria, artefatos de sisal, leite e seus derivados, inclusive um delicioso requeijão como ninguém na região fazia melhor (aliás, ainda faz)
CASAS DE FARINHA.
Como é uma região altamente produtora de mandioca, um bom percentual da economia na época desde os anos 40, tinha a participação das tradicionais "casas de farinha", que eram moendas que transformavam a mandioca em farinha, e de boa qualidade: fina e bem torrada, a melhor da região.
Casa de Farinha (processo manual antigo) |
BATEDEIRAS DE SISAL
O povo de Capela do Alto Alegre sempre foi um povo festivo (alegre, divertido), e também festeiro (organizador de festas) um povo muito hospitaleiro e comunicativo, não apenas promotor de festas como também participante, visto que tinha bom relacionamento com pessoas de outros povoados ou cidades.
Como fruto desse espírito comunicativo e social, adveio a cultura do sisal em Capela.
O agave, ou sisal, como é conhecido por aqui, é uma planta de estrutura vegetal fibrosa e textil, originária do Mexico, mas por aqui a cultura do sisal foi introduzida no início dos anos 60, através desse intercambio de amizade do povo de Capela com o povo dos municípios de Retirolândia, Conceição do Coité e Serrinha conhecida como a região sisaleira.
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Assim como as moendas "casas de farinha", também para a extração, beneficiamento, armazenamento e comercialização do sisal, haviam as "batedeiras de sisal", O processo inicial se dava numa cobertura no meio da roça onde ficava a moenda , ou seja um motor com uma abertura por onde entrava a folha do sisal e nessa abertura se continha uma lâmina que traçava a folha transformando-a em fibras.
Esse processo era feito manualmente, de forma que exigia muita atenção na hora de colocar o sisal na máquina, pois ao menor descuido a lâmina decepava dedos ou a mão do operário. Era comum se ver por aqui pessoas com dedos ou mãos decepados. Depois as batedeiras foram evoluindo e substituindo esses motores por máquinas mais avançadas.
Os primeiros motores de sisal e o transporte da fibra |
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A produção agrícola, pecuária e outras, eram escoadas, em proporções maiores, através de veículo de tração animal como o carro de boi, ou tropas de burros, e em menores proporções, os alimentos e outros produtos eram transportados por animais conduzindo jacás . O jacá , conhecido também como caçuá, era um cesto feito com cipó da região e colocado aos pares sobre o lombo de um cavalo, burro ou jumento para transportar essas pequenas cargas
Bois de carro. Foto cedida por: Profa.Noelza |
FOTO by:Cleuber - MG |
O carro de boi, por muito tempo foi o transporte de carga na zona rural |
O jacá (ou caçuá) sobre lombo do animal no transporte de pequenas cargas FOTO: coisadecearense.blogspot.com |
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Todavia, apesar de uma região irrigada por riachos e rios da Bacia do Jacuípe, a região já enfrentou sérios problemas , causados por períodos ( poucos porém muito longos), de estiagem. Da lembrança do autor, por exemplo: 1959, e dois anos consecutivos 1961 e 1962, a seca foi horrível. Mas, contavam parentes e familiares que 1932 foi a pior de todas as secas do sertão da Bahia
Por isso, houve a necessidade de cavação de grandes tanques nas fazendas para abastecimento do gado e no ano de 1954 foi construído um açude no povoado, sob o apoio do Dep. Manoel Cavalcanti Novaes, para abastecimento da população urbana, pois não havia água canalizada na época. Nos anos 60, o ESCRIVÃO JOSÉ NAZARÉ, foi um cidadão capelense entre os que mais fizeram campanha na região nas eleições para deputado MANOEL NOVAES, por causa da construção do açude
Tanque, para abastecimento do gado. FOTO cedida por Profa. Noelza |
Até mesmo nos anos 60 as mulheres do povoado buscavam água em tanques, carregando sobre a cabeça potes de barro que eram produzidos na região. A água do açude não era muito boa, não era potável, por isso era utilizada mais na lavagem de roupas. Para consumo próprio e das famílias, elas preferiam os tanques, que eram cavados naturalmente na terra nos lugares mais baixos, próximo ao povoado. Um desses tanques chamava-se Tanque Novo, e ficava bem próximo, na saída do povoado para o Bispador.. Era um tanque enorme, mas quando chovia muito ele transbordava e invadia as casas . Depois foi aterrado e construído casas no local.
Açude construido em 1954 com apoio do Dep. Manoel Novaes |
DRIBLANDO A SECA - As secas mudavam completamente toda a rotina da vida rural e preocupava os fazendeiros que eram obrigados a remover o gado bovino e ovino para outros municípios em busca de pastagens de aluguel
Aqueles que não dispunham de maiores recursos financeiros, alimentavam o gado magro e fraco, com recursos de plantas típicas da região, como a palma, o sisal (podando-se as agulhas) e o mandacaru (retirando-se os espinhos com um facão) Essas plantas são nativas do Nordeste e têm uma característica em comum: uma grande retenção de água em sua estrutura vegetal., resistindo assim por um longo tempo durante o período da estiagem
PALMA foto:exposicaofotograficaapaeb.blogspot.com |
GRAVATÁ - Outra planta também com essa característica, é o gravatá, que servia até pra gente beber água. O gravatá é uma planta também nativa do Nordeste, que apresenta suas folhas em forma de longas calhas sobrepostas entre si e armazenando assim grande quantidade de água. [Eu mesmo já bebi água de gravatá em 1959 , não por brincadeira de menino, mas por causa da seca mesmo, na Fazenda Pedra Bonita onde moravam meus tios Otaviano Nazaré e Osias, e uma tia chamada Liobina, avó de Noemisma (ex-lª dama do atual município)]
PINDOBA - A pindoba, é mais outra planta da região, que embora não proporcionando poder econômico volumoso, mas sempre esteve presente na vida do capelense, na produção de artefatos como chapéu de palha, bolsas, mochilas (aqui especificamente chamadas de capanga ou mocó), esteiras, vassouras e peneiras. Além desses artefatos a pindoba também nos oferece o seu fruto chamado ariri, muito gostoso, e de formato e sabor muito aproximado ao licuri. E aí, "tá pensando que licuri é coco?" Pois é, aqui tem também o ariri. Cuidado pra não confundir (rsrsrss)
BATATA DE UMBU e OUTROS - Capela do Alto Alegre apresentava, e ainda apresenta, muitas outras peculiaridades, além de um requeijão tirado no ponto certo, é encontrado também o mais puro mel de abelha, devido a uma grande variedade de flores naturais de sua caatinga. Tem ainda o beiju de tapioca (produto da mandioca), rapadura, produto extraído do mel da cana de açúcar, um processo que dura quase uma hora numa fornalha geralmente à lenha, e o doce de batata de umbu, extraído da raiz do próprio umbuzeiro. O umbuzeiro contem em sua raiz uma espécie de túbora em forma de batata, muito doce e agradável, por isso que as mulheres de nossa região criaram esse famoso "doce de batata de umbu"
As mulheres de Capela do Alto Alegre são verdadeiras artistas na culinária. Quem visita a cidade, apaixona-se, pela comida e por elas, pois que são muito belas e amáveis.
Processo da fabricação da rapadura (FOTOS: Letícia Evaristo da Silva)
Cortiço natural, preservando o habitat das abelhas |
CIRANDAS - Quem daquela época não se lembra do tempo de menino, da castanha assada, do espetinho de licuri assado que as meninas faziam, e das noites de lua prateada (não havia luz elétrica), em que nossos pais batiam papo sentados na calçada, enquanto nós meninos e meninas brincávamos inocentemente de ciranda ao som de lindas cantigas de roda. -"Sozinha eu não fico, nem hei de ficar, pois eu tenho "Fulano" para ser meu par".
PASSEIO ESCOLAR -Naquela época as escolas organizavam passeios, picnic nas fazendas, escolhiam as mais bonitas, onde tivessem riachos, vista panorâmica e lajedos pra tirar fotos, Fazenda Boa Sorte, Lajedo do Alto, Olhos Dágua, onde tem um riacho lindo de águas cristalinas correndo entre as pedras e debaixo das gameleiras. E até mesmo o monte era escolhido de vez em quando. Não era utilizado apenas para visita em dia de sexta-feira da paixão. O monte, é uma verdadeira paixão do capelense. Inclusive é tombado pelas autoridades e declarado patrimônio público municipal.
Riacho dos Olhos Dágua, lugar muito belo e atrativo, para picnics e nas cheias também utilizado como balneário
FOGÃO À LENHA - Se naquele povoado não havia luz elétrica, nas fazendas então nem sequer fogão à gás. Na zona rural os fogões eram construídos com tijolos e o combustível era lenha mesmo, pois tinha a vontade no catingal e as panelas eram de barro pois o que não faltava eram bastante olarias na região. Mas justamente por esses dois aspectos a comida era muito mais saborosa do que se fosse feita no mais sofisticado fogão dos dias de hoje e em panelas do mais caro alumínio.
FOTO by: Suely Saliture |
Esse era um luxuoso modelo, pois nos mais simples a panela se acomodava sobre três pedras chamadas de "trempe" |
cuia (banda de uma cabaça) |
As cuias serviam também para encher os potes de barro nos tanques. Em algumas casas os potes eram colocados sobre um pedestal de cimento, e em outras eram colocados sobre uma forquilha de pau de três pontas
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Durante a década de 60, a economia de Capela do Alto Alegre, girava principalmente em torno da cultura do sisal, não apenas através de sua comercialização, mas também produzindo artefatos, como cordas, estofos, tapetes e sacarias Mas a pecuária sempre foi muito forte, tendo um grande percentual de participação na vida econômica do município. A pecuária é uma coisa que sempre esteve muito forte no sangue, no coração, e na alma do povo capelense.
FOTOS by: Prof..Noelza |
A pecuária sempre esteve muito forte no sangue, no coração, e na alma do povo capelense.
Foi nessa época, inclusive, que Capela teve um grande aumento na frota de caminhões, o que já era uma tendência do capelense.
O povo de Capela sempre teve uma forte inclinação para a profissão de motorista, seja no transporte de passageiros, gado ou cargas. Muitos nomes deixaram registro em nossa memória , alguns ainda fazem essa história juntamente com outros novatos que surgiram. Podemos citar o sr, Lindolfo João Carneiro, que foi o primeiro dono de ônibus, o sr. Miguel Mendes, Manoel Legal, muitos camioneiros e carreteiros na família do sr. Manoel Luiz, na família do sr. Vencelêncio e Pedro Juvêncio dos Santos, podemos citar ainda nomes como Francisquinho, Paizinho, Jaconias e seu filho Jackson, os filhos de Adélia Oliveira (Antonio, Gerson, José, Gilson, Atanael), e hoje temos uma frota enorme de caminhões com placa de Capela do Alto Alegre rodando pelas estradas deste nosso país.
Meu saudoso primo Jackson, filho do também saudoso e também caminhoneiro Jaconias
Caminhão do sr. Francisco Pereira (o saudoso Paizinho Caminhoneiro, um dos pioneiros em Capela do Alto Alegre)
Os carros dos anos 60 eram Fusca, o famoso Jeep, Rural , konbi, Camionet (tipo C-10), Gordini, DKV, Aerowillys, Simca e o luxuoso Impala
SIMCA ano 67. E tinha até uma música: -"Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear" (Eduardo Araujo)
FOTO: banukar.com
Aerowillys |
O luxuoso IMPALA . Aqui na região só tinha um, do cidadão José de Tuza em Riachão do Jacuípe. Era uma onda!!!
CONTINUA
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Parabens pela ideia de escrever sobre Capela do Alto Alegre, estge blog tá legal, muito bom mesmo, goswtaria de conhecer mais sobre a cidade, uma vez que meus avós tem suas origens de lá. Vou acompanhar este blog Parabenms m ais uma vez Abçs. José Queiroz Jr.-Riachão do Jacuipe
ResponderExcluirSó tu mesmo Evaristo pra fazer um trabalho desse contanta dedicação tanto detalhe e sem ter nada em troca pelo que te conheço voce é muito dedicado muito detalhista. Ever, isso é que é amor por uma terra ta muito bonito parabens meu lindo. Viviane, Feira/ba
ResponderExcluirParabens e muito obrigada, amigo, por divulgar na internet a nossa querida cidade assim de forma tao abrangente, obrigada mesmo, um grande abraço. Juci Mascarenhas
ResponderExcluirFico feliz em ver algumas das minhas fotos publicada em seu maravilhoso blog,qual fala sobre minha cidade Capela do Alto Alegre.
ResponderExcluirParabens pela iniciativa.